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Blog Crítica Prática

Foto do escritorElza Peixoto

MARXISMO, TEORIA DO CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO - 1a Edição


AULA INAUGURAL

(23.11.2012)



Não há estrada real para a ciência, e só tem probabilidade de chegar a seus cimos luminosos, aqueles que enfrentam a canseira para galgá-los por veredas abruptas.

Karl Marx (O capital, 1989, p. 19).


[...] Afastando-se da simples repulsa, candidamente revolucionária, de toda história anterior, o materialismo moderno vê na história, o processo de desenvolvimento da humanidade, cujas leis dinâmicas tem por encargo descobrir. E, desviando-se da idéia da natureza que dominava entre os franceses do século XVIII, da mesma forma que da idéia concebida por Hegel, idéia pela qual se considerava a natureza como um todo permanente e inalterável, com mundos eternos que se moviam dentro de um estreito ciclo, tal como a representava Newton, e com espécies invariáveis de seres orgânicos, como ensinava Lineu, o materialismo moderno resume e sistematiza os novos progressos das ciências naturais, segundo os quais a natureza tem também a sua história no tempo e os mundos, as espécies e os organismos, que, em condições propícias, o habitam, nascem e morrem, e onde os ciclos, na medida em que sejam admissíveis, se revestem de dimensões infinitamente mais grandiosas. Tanto num como noutro caso, o materialismo moderno é substancialmente dialético e já não há necessidade de uma filosofia superior para as demais ciências. Desde o instante em que cada ciência tenha que se colocar no quadro universal das coisas e do conhecimento delas, já não há margem para uma ciência que seja especialmente consagrada a estudar as concatenações universais. Tudo o que resta da antiga filosofia, com existência própria, é a teoria do pensamento e de suas leis: a lógica formal e a lógica dialética. Tudo o mais se dissolve na ciência positiva da natureza e da história.

A nova etapa das ciências naturais, entretanto, só conseguiu impor-se na medida em que a investigação lhe fornecia materiais positivos correspondentes, e, enquanto isso, já há muito tempo, se haviam revelado certos fatos históricos que abalaram decisivamente o modo de encarar a história. Em 1831, rompe, em Lyon, a primeira sublevação operária e, de 1838 a 1842, o primeiro movimento operário nacional, o dos cartistas ingleses, alcança o seu apogeu. A luta de classes entre o proletariado e a burguesia passou a ocupar o primeiro plano na história dos países europeus mais avançados, no mesmo ritmo em que se desenvolvia a grande indústria e em que se firmava a hegemonia política da burguesia recentemente conquistada. Os fatos vinham desmentir, cada vez mais categoricamente, as doutrinas econômicas burguesas sobre a identidade de interesses entre o capital e o trabalho e sobre a harmonia universal e o bem estar geral das nações como fruto da livre concorrência.

Esses fatos não podiam passar desapercebidos, assim como não podia ser ignorado o socialismo francês e o inglês que eram a sua expressão teórica, embora ainda bastante imperfeita. Mas a velha concepção idealista da história, que ainda não havia sido abandonada, não podia reconhecer sequer interesses materiais de qualquer espécie. Para ela, a produção, como todos os outros fatores econômicos, só existia como acessório, como elemento secundário dentro da “história cultural”. Os novos fatos, que a realidade revelava, obrigaram a uma revisão de toda a história antiga e, dessa maneira, ficou demonstrado que a história havia sido, sempre uma história de luta de classes e que estas classes em luta foram, em todas as épocas, condições de produção e de troca, ou seja, fruto das condições econômicas e que a estrutura econômica da sociedade em todos os fatos da história era, portanto, a base real sobre a qual se erigia, em última instância, todo o edifício das instituições jurídicas e políticas, da ideologia filosófica, religiosa, etc., de cada período histórico. Assim, o idealismo viu-se despojado de seu último reduto na ciência histórica. Lançava-se os alicerces para uma concepção materialista e abria-se o caminho para verificar-se que a existência é que determina a consciência do homem e não é a consciência que determina a existência, como se afirmava tradicionalmente.

Friedrich Engels (Anti Dühring, 3 ed. 1979, p. 21-24)


Sobre a necessidade radical de reconhecer o marxismo como teoria do conhecimento e concepção de direção da ação do homem no mundo.


Esta disciplina, tal como sinaliza sua ementa, visa o


Estudo cronológico da obra de Marx e Engels com o fim de apreender, na crítica à ciência burguesa, o processo de elaboração da concepção materialista e dialética da história, destacando-se especialmente (a) as origens e as fontes do marxismo, e, no debate do tempo histórico, (b) o posicionamento ontológico, gnosiológico, axiológico e teleológico assumido pelos autores.


Nesta aula inaugural cabe explicar a necessidade que determina que tenhamos uma disciplina desta natureza, assim como, à tradição a qual esta disciplina se remete, que compõe as determinantes do modo como ela será conduzida. Nela, tenho que apresentar a vocês os termos centrais que orientam o que estamos querendo quando propomos discutir o marxismo como teoria do conhecimento com implicações, como toda teoria do conhecimento, para a educação. O movimento que temos que realizar neste momento (a aula) deve permitir entender que o projeto desta disciplina está marcado pela concepção de que todo o trabalho pedagógico está determinado pelo estágio de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção, que se expressam, em movimento contraditório e dialético, nas ideias pedagógicas[1] predominantes em um determinado tempo.


As ideias pedagógicas, o ideal pedagógico de um tempo, determinado pelo estágio de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção, expressa, ainda que de forma inconsciente, um caldo cultural (uma segunda natureza desenvolvida pelos homens) que inclui (a) uma concepção sobre o que é o homem e como ele se produz (ontologia); (b) uma concepção sobre a relação matéria e consciência, sobre a possibilidade do conhecimento e sobre o critério de verdade, com implicações no entendimento de como o homem conhece o mundo (gnosiologia); (c) uma concepção dos valores que devem ser cultivados na formação humana que são mais adequados a um determinado modo de vida (axiologia); (d) uma concepção sobre a finalidade das ações humanas (teleologia).


Estas concepções que se movem em uma dada formação social fundam o modo como os homens de um determinado tempo histórico produzem teorias pedagógicas sobre as formas mais eficientes para que o homem apreenda o modo de vida do tempo em que vive. Ou seja, em cada estágio de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção ao longo da história da humanidade, a partir do decorrente estágio de desenvolvimento das ideias sobre o mundo objetivo em que viviam, os homens produziram projetos sobre o melhor modo de formar as futuras gerações. Projetos que foram sendo formulados, aplicados e abandonados de acordo (a) com o modo como os homens conheciam e compreendiam o tempo em que viviam; (b) de acordo com a correlação de forças que lhes empurrava para atender aos interesses predominantes em uma dada conjuntura.


Esta disciplina trata, também, do esforço radical e rigoroso de apanhar o ideal pedagógico do tempo em que vivemos, a partir da recuperação do processo histórico de produção da Concepção Materialista e Dialética da História, contado a partir da leitura das obras dos seus fundadores, no sentido daqueles que vão providenciar sua sistematização, que vão apanhar o movimento que demanda o aparecimento desta Concepção. Mas esta disciplina, principalmente, deseja concentrar-se no estudo do modo como – em determinado estágio de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção, apanhando o movimento desta conjuntura – dois pensadores vão posicionar-se frente aos problemas fundamentais da filosofia – que tratam da possibilidade de o homem conhecer e governar a direção do movimento do mundo – para trazê-la de volta às necessidades terrenas.


A necessidade radical que me move a oferecer esta disciplina é reconhecer como o marxismo vai apropriar, criticar e superar o idealismo filosófico, a economia política, a teoria da história fenomenológica e o socialismo utópico, propondo a Concepção Materialista e Dialética da História que implica, necessariamente, em dizer que “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado” (MARX, O dezoito de Brumário de Luís Bonaparte, 1978, p. 329); mas essencialmente, implica na necessidade de reconhecer estas circunstâncias históricas que determinavam a possibilidade de ação dos homens, pois Marx e Engels concebiam que o estágio de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção no século XIX determinava a possibilidade de superação da profunda exploração em que viviam aqueles que produziam o capitalismo como modo de produção da existência: o proletariado. Dedicados à causa da superação do capitalismo, Marx e Engels impunham-se a tarefa de apreender o movimento do real para auxiliar no processo de sua transformação. Sob estas condições, Marx e Engels sistematizam a Concepção Materialista e Dialética da História enquanto teoria sobre as possibilidades e os limites da ação humana em uma dada conjuntura, que porta uma ontologia, uma gnosiologia, uma axiologia e uma teleologia.


Ao pararmos para ler as obras de Marx e Engels que abordam mais diretamente os embates sobre a possibilidade de o homem conhecer e governar a direção do movimento do mundo estamos enfrentando a necessidade radical de reconhecer, no século XXI, os fundamentos do ideal pedagógico que se assenta na negação da razão, da ciência, da história, do trabalho, da luta de classes que predomina nas instituições educativas brasileiras. Trata-se de buscar consistente base teórica para reconhecer, no caldo cultural do século XXI, as relações de produção que determinam (1) a negação da possibilidade do homem – no nosso tempo histórico, a classe trabalhadora – de conhecer e governar a direção do movimento do mundo, limitando-a à sensação de um eterno presente; (2) a negação do trabalho como categoria fundante de toda a possibilidade de existência humana, com profundas implicações na preservação da terra, do homem e do patrimônio que a humanidade vem acumulando; (3) a ascensão dos discursos que apagam a desigualdade na apropriação dos bens socialmente construídos pela classe trabalhadora, dispersada, enquanto sujeito histórico, na tese da diversidade; (4) a ascensão dos discursos que negam o acesso ao conhecimento científico, propagando misticismos, irracionalismos, o império da experiência e das sensações como determinantes da direção que deve assumir a formação humana, principalmente evidenciadas nas pedagogias do aprender a aprender; (5) a negação do marxismo enquanto teoria do conhecimento que permite entender a origem do idealismo, dos ecletismos, do irracionalismo, negando-se consistente base teórica para reconhecer matrizes teóricas inconciliáveis; negação providencial para a preservação do status quo, portanto, de perspectiva conservadora e anti-revolucionária.


Há uma base objetiva determinando o caldo cultural que vivemos hoje, e esta base objetiva não pode ser reconhecida pelos órgãos do sentido. Esta base objetiva só pode ser reconhecida no esforço intelectual de aprimorar as funções psíquicas superiores para a árdua tarefa de dar continuidade ao trabalho que a humanidade vem desenvolvendo de aprimorar o cérebro, as habilidades e capacidade humanas, para apreender as possibilidades de conhecer e dar direção à ação do homem no mundo. Este desenvolvimento do cérebro – temos que esclarecer – não se faz no isolamento do sujeito do mundo objetivo, mas no ato contínuo em que o sujeito, agindo sobre o mundo real, é conduzido a apropriar o conhecimento sobre este agir, avaliar suas possibilidades e limites, e propor sua superação em bases mais avançadas. Noutras palavras, trata-se, continuamente, de enfrentar os desafios da produção da existência orientados pela reflexão assentada no conhecimento científico mais avançado. Reconheço esta como a tarefa essencial a ser cumprida pela Universidade, nos cursos de graduação e Pós-Graduação. Cada vez mais esta tarefa tem sido dificultada pela fragilização e esvaziamento da formação humana que se dá no interior das escolas. Este esvaziamento e esta fragilidade reproduz-se em todos os níveis de escolaridade, e está na raiz da formação de professores que encontram-se impossibilitados de reconhecer a disputa de projetos que está se dando na formação dos professores, cuja meta fundamental é atingir a degradação da formação da classe trabalhadora. O estudo que vamos desenvolver pode nos permitir reconhecer, por traz dos “neo” novidadeiros, os espíritos do passado conjurados como farsa para enganar e evitar a revolução necessária das condições da existência que impedem o desenvolvimento de toda a humanidade.


Apontamentos sobre as referências centrais e a tradição a que se remetem:


A concepção materialista e dialética da história parte da tese de que a produção, e com ela a troca dos produtos, é a base de toda a ordem social; de que em todas as sociedades que desfilam pela história, a distribuição dos produtos. E juntamente com ela a divisão social dos homens em classes ou camadas, é determinada pelo que a sociedade produz e e como produz e pelo modo de trocar os seus produtos. De conformidade com isso, as causas profundas de todas as transformações sociais e de todas as revoluções políticas não devem ser procuradas nas cabeças dos homens nem na ideia que eles façam da verdade eterna ou da eterna justiça, mas nas transformações operadas no modo de produção e de troca; devem ser procuradas não na filosofia, mas na economia da época de que se trata. Quando nasce nos homens a consciência de que as instituições sociais vigentes são irracionais e injustas, de que a razão se converteu em insensatez e a bênção em praga, isso não é mais que um indício de que nos métodos de produção a nas formas de distribuição produziram-se transformações com as quais já não concorda a ordem social, talhada segundo o padrão de condições econômicas anteriores. E assim já está dito que nas novas relações de produção têm forçosamente que conter-se – mais ou menos desenvolvido – os meios necessários para por fim aos males descobertos. E esses meios não devem ser tirados da cabeça de ninguém, mas a cabeça é que tem que descobri-los nos fatos materiais da produção, tal e qual a realidade os oferece (ENGELS, Do socialismo utópico ao socialismo científico, s/d, p. 49).


Marxismo, teoria do conhecimento e educação traduz a necessidade de estudar o marxismo para apreender o método mais avançado para a análise e explicação das condições objetivas nas quais se desenvolve o trabalho pedagógico na escola que o capitalismo desenvolve como instituição que cumpre a tarefa de concretizar o projeto histórico da classe dominante, a classe capitalista, para a classe trabalhadora. Estudamos o marxismo para compreender a luta de classes em que é travada a disputa de projetos pela direção da formação da classe trabalhadora, em que se confrontam o projeto dos proprietários dos meios de produção e o projeto dos proprietários da força de trabalho. Esta disputa de projetos se faz em uma hegemonia que tem como eixo central a negação à classe trabalhadora do conhecimento necessário para o reconhecimento das condições objetivas em que os trabalhadores vivem, com ênfase em todas as formas de obscurecimento de sua consciência, alcançando o extremo da retomada do pensamento mítico e do irracionalismo como eixos explicativos do mundo, propagada por autoridades no interior das escolas e das Universidades e facilmente reconhecíveis nos corredores desta FACED. A hipótese que orienta esta disciplina é que a realidade está nos oferecendo as condições para reconhecer os limites do capitalismo, mas as ideias hegemônicas, as ideologias dominantes, cumprindo papel anti-revolucionário, estão impossibilitando que reconheçamos, a partir dos recursos intelectuais mais avançados desenvolvidos pela humanidade, as condições objetivas e as demandas urgentes por uma ação teleologicamente orientada para a finalidade da superação do capitalismo. O capital trabalha para a degradação da formação da classe trabalhadora por que sabe que é ela o antagônico que pode impor barreiras à apropriação privada, à concentração da riqueza e à degradação da vida que o capitalismo promove. O capital trabalha para impedir que a classe trabalhadora possa projetar e planificar o seu futuro.


O que nos permite reconhecer este projeto? Definitivamente, não é empirismo e o eterno experimentalismo. Os saltos dados pela humanidade dependeram essencialmente da capacidade de registrar e transmitir as descobertas anteriormente desenvolvidas pelas gerações anteriores. Por esta razão, estamos defendendo a revisão bibliográfica, a apropriação do que já é conhecido, como passo essencial para a superação dos limites do conhecido e a conquista de entendimento mais atual e avançado sobre a realidade.


Neste sentido, cabe aqui uma nota sobre o conjunto das obras que permitiram formular as teses que estamos desenvolvendo nesta disciplina, que não podemos apropriar no seu decorrer, mas que devem ficar registradas como desafios para o aprofundamento dos seus estudos. Este conjunto de obras compõe o quadro que deve ser apropriado para explicar a teoria do conhecimento marxista.


Há um conjunto de referências para o reconhecimento da tradição a que o marxismo se remete e para a explicação do modo como o marxismo se constitui como teoria do conhecimento. Um conjunto de obras que situaram Marx e Engels nos embates do século XIX são cruciais para explicar como a teoria marxista vai se desenvolver. Nós estamos adotando nesta disciplina aquelas escritas pelos próprios Marx e Engels, mas há um conjunto de outras obras de referência que é preciso apropriar, como, por exemplo, (a) as obras que explicam as fontes que Marx e Engels apropriaram e superaram para a produção do marxismo (As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo, de Lenin; a Introdução de Florestan Fernandes à obra Marx e Engels: História); (b) as obras que completam o estudo do debate de Marx e Engels com os novos hegelianos e a superação do Idealismo (Fenomenologia do Espírito, de Hegel; A essência do cristianismo, de Feuerbach; Crítica da filosofia do direito de Hegel, de Marx; A sagrada família, de Marx e Engels; A miséria da filosofia, de Marx); (c) as obras que tratam da Concepção Materialista e Dialética da História como estudo do desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção (Origem da família, da propriedade privada e do Estado, de Engels; Grundrisse, de Marx; O Capital, de Marx); (d) as obras que aprofundam a compreensão das relações de produção próprias do capitalismo e dos seus impactos sobre a situação de vida da classe trabalhadora e sua capacidade de se organizar para fazer a revolução sobre o capitalismo (Salário, preço e lucro, de Marx; O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, de Marx; A guerra civil em França, de Engels; Sobre a Alemanha, de Engels; A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, de Engels); (e) as obras que contribuem para explicar a centralidade do trabalho na produção da existência humana, a forma do trabalho no capitalismo, e que auxiliam no entendimento da ontologia marxiana e engelsiana (O papel do trabalho na transformação do macaco em homem, e especialmente, os capítulos A mercadoria e Processo de Trabalho e Processo de produzir mais valia, de Marx). Estas obras são referências centrais para a compreensão da força revolucionária da concepção materialista e dialética da história.


É necessário recordar que a concepção materialista e dialética da história originada com Marx e Engels desdobra-se na apropriação e desenvolvimento de sua obra feita por gerações de intelectuais espalhadas em diversos países. É possível revisar a História do Marxismo na coleção de 12 volumes organizada por Erick Hobsbawm, e a História do Marxismo no Brasil, na coleção de 6 volumes organizada por João Quartim de Moraes, Marcos Del Roio, Daniel Aarão Reis Filho e Marcelo Ridenti. Uma exposição sobre este desenvolvimento do marxismo ociental, cujos autores circulam com maior força no Brasil, pode ser obtida na obra Considerações sobre o marxismo ocidental, de Perry Anderson. É imprescindível contar com o Dicionário do pensamento marxista de Tom Bottomore para introduzir-se nos conceitos centrais e localizar as obras centrais para o estudo dos diversos temas e problemas que o marxismo suscita e permite debater.


Interessa-nos, em especial, um conjunto de obras que possibilitam compreender o modo particular como o marxismo vai desenvolver uma teoria do conhecimento, explicar a produção das teorias do conhecimento e explicar os embates de projetos que determinam o acesso à educação, enquanto uma teoria geral da disputa de projetos pela formação humana e enquanto uma história desta disputa de projetos que se dá de modo muito particular na formação social brasileira. Aqui, consideramos particularmente, as obras: Educação e Luta de Classes, de Aníbal Ponce; O imperialismo, fase superior do capitalismo, de Lenin; A era dos extremos, de Erick Hobsbawm; Trabalho e capital monopolista, de Harry Braverman; História da indústria e do trabalho no Brasil, de Francisco Foot Hardman e Victor Leonardi; História das ideias pedagógicas no Brasil, de Dermeval Saviani; Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica, de Maria Amália Andery, em especial, a Introdução e o capítulo 22 que trata do entendimento de Marx e Engels sobre o processo de desenvolvimento da ciência. Este conjunto de obras permite compreender os profundos nexos indissociáveis que existem entre modo de produção, trabalho, tempo livre, produção do conhecimento e educação.


Por fim, não poderia propor e conduzir esta disciplina se não tivesse passado pela orientação do professor José Claudinei Lombardi, responsável pela indicação do caminho que me fez chegar a tudo o que sei sobre a Concepção Materialista e Dialética da História. Esta disciplina é, praticamente, a reprodução do caminho que percorremos com ele durante os cursos Leitura das obras de Marx e Engels, e Leituras Marxistas, desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas, entre os anos de 2003 e 2007. Mais que isto, as leituras delimitadas foram por ele selecionadas a partir do curso original que adaptei e encaminhei por email para a sua avaliação. O conjunto dos ensinamentos expressos pelo Prof. Zezo, estão sistematizados em obras que vão nos orientar neste curso. A Tese de Livre-docência Reflexões sobre educação e ensino na obra de Marx e Engels, do próprio Lombardi; a primeira parte do livro Marx, Gramsci e o Conhecimento, de Marcos Francisco Martins. A tese de livre-docência também está disponível em livro, estando uma parte dela nesta disciplina, no instante em que vamos estudar a Crítica da educação e do ensino e outra parte em EBOOK, Embates marxistas: apontamentos sobre a pós-modernidade e a crise terminal do capitalismo.


Cabe indicar que esta disciplina compõe as atividades de estudos e pesquisas empreendidas no projeto Pressupostos ontológicos, gnosiológicos e axiológicos da concepção materialista e dialética da história: contribuições para o trabalho pedagógico, a formação dos professores, a produção do conhecimento e as políticas públicas em educação e educação física, esportes e lazer, que vem sendo desenvolvido no interior do PPG em Educação, na Linha Educação, Cultura Corporal e Lazer, e no Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Física & Esporte e Lazer.


Indicadas algumas das obras que subsidiam o modo como estamos desenvolvendo esta disciplina, cabe, agora, pontuar: (a) as obras com as quais vamos trabalhar e (b) o eixo que vai nortear o modo como vamos estudar estas obras.


O programa de leituras delimitado e a direção do estudo:


O curso está dividido em 03 partes.


Na primeira unidade, estudamos na fonte os pressupostos ontológicos, gnosiológicos, teleológicos e axiológicos que norteiam a concepção materialista e dialética da história. Na segunda parte, passamos a estudar com mais atenção o modo como o marxismo vai fazer a crítica da educação e do ensino próprias do capitalismo e como vai desenvolver os rudimentos de uma educação voltada aos interesse da classe trabalhadora. Na primeira parte, vamos trabalhar com os Manuscritos Econômico-Filosóficos, de Marx, com A ideologia alemã, escrita por Marx e Engels, com o Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels; com um extrato dos Grundrisse, publicado por Marx como Contribuição à Crítica da Economia Política, com as obras de Engels Anti Duhring, Dialética da Natureza, Do socialismo utópico ao socialismo científico e Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã, e com a obra de Lenin Materialismo e empiriocriticismo, buscando: (a) os pressupostos básicos da Concepção Materialista e Dialética da História enquanto teoria do conhecimento que porta uma concepção do que é o homem e como ele apreende e age no mundo; (b) a compreensão do modo como o marxismo explica a relação da produção da existência com a produção e a transmissão do conhecimento; (c) a explicação que Engels oferece sobre as condições históricas e os processos que permitiram a produção da Concepção Materialista e Dialética da História.


Na segunda unidade, passamos ao estudo mais detido, a partir de comentaristas, do modo como Marx e Engels vão fazer a crítica da educação e do ensino no capitalismo e como vão ser produzidos os rudimentos de uma educação voltada para os interesses revolucionários da classe trabalhadora. Trabalhamos, então, com a seleção de Roger Dangeville e com os estudos de Manacorda e Lombardi, enfocando, especificamente, a relação de Marx com a pedagogia moderna e a o enfoque da educação e do ensino na obra de Marx e Engels.


Feita esta incursão pelo marxismo clássico e pelo enfoque da educação nestas obras, passamos para a compreensão do modo como o marxismo vem contribuindo para explicar o trabalho pedagógico do professor em geral e do professor de educação física em especial, garantindo a produção da Pedagogia Histórico-Crítica e, no âmbito da Educação Física, a Metodologia Crítico-superadora. Trabalhamos, agora, com as obras que estão discutindo, no Brasil, a constituição da Pedagogia Socialista. Neste aspecto, contamos com a condição especial de estar em um dos importantíssimos centros de estudo e desenvolvimento de projetos voltados a formação de professores para a educação compromissada com os interesses dos trabalhadores, na forma dos projetos de Licenciatura Ampliada em Educação Física e Licenciatura em Educação do Campo, com um profícuo desenvolvimento de debates, estudos e pesquisas que resultam em Teses e Dissertações que contribuem para o desenvolvimento da pedagogia socialista.


Nossa meta é estudar a concepção materialista e dialética da história, reconhecendo o processo de sua produção, e seus pressupostos ontológicos, gnosiológicos, axiológicos e teleológicos. Mas esta meta deve ser, uma vez superada, momento de passagem para a meta de reconhecer o papel revolucionário da educação como ato de produzir em cada indivíduo singular a humanidade (SAVIANI, Sobre a natureza e a especificidade da educação, in Pedagogia Histórico-crítica, primeiras aproximações, 2008). Neste sentido, cabe que nos reconheçamos, nós, os professores, como agentes centrais para a formação das gerações futuras, capazes de, formados em perspectiva omnilateral, a partir de consistente base teórica, assentada no conhecimento científico, garantir às futuras gerações a reprodução singular da humanidade enquanto condição universal.


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[1] Ver PONCE (2007); SAVIANI (2007).


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