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Blog Crítica Prática

Foto do escritorElza Peixoto

Seu Nelson e o fio das memórias...


Soube hoje, graças à belíssima homenagem prestada por Golbery Lessa e publicada aqui no Facebook, que seu Nelson dos Santos, o alagoano Nelson da Rabeca, faleceu... Foi-se com seu Nelson e José Gramani (falecido em 1998) um estilo muito especial de fazer a rabeca e o violino soarem até nos fazerem sorrir como sorriam os olhos destes dois músicos quando tocavam!

Nelson da Rabeca excursionou pelo Brasil pelo SESC, gravou “Caranguejo danado” com patrocínio do SESC Alagoas e foi um dos quatro rabequeiros que fizeram parte da pesquisa de José Eduardo Gramani (UNICAMP), resultando num impressionante acervo de imagens de processos de confecção de rabecas; horas de gravação de música e conversas entre o violinista e os rabequeiros; um livro ("Rabeca: o som inesperado") que conta a história do projeto de pesquisa, da viagem realizada pelo Zé e a Ana, e dos processos de confecção e das diferenças de sonoridades entre os instrumentos, produzidos por Nelson dos Santos, Julio Pereira, Martinho dos Santos e Arão Barbosa; além das partituras das canções escritas pelo Zé inspirado pela sonoridade das rabecas. Aqui, link para matéria da Folha de Londrina que conta a história da pesquisa e do trabalho de Daniela Gramani para não deixar engavetado o riquíssimo material produzido por Zé Gramani, Ana Salvagni, e num dos momentos da pesquisa, pelo seu Nelson... (https://www.folhadelondrina.com.br/.../os-construtores-de...)

Tive a oportunidade de conviver com os dois entre 1992 e 1997. A Canção de Deodora conta a história das impressões na memória do convívio com ele, D. Benedita e os filhos, enquanto procurávamos (Ana Salvagni na linha de frente da pesquisa) uma Rabeca do seu Nelson para levarmos ao Zé Gramani, lá nos idos de 1992. A Rabeca feita de Gameleira, ganhou o nome de Deodora, e nas mãos do Zé ganhou vida própria e parceira, produzindo-se a canção “Deodora”.

A canção permaneceu tocada por Zé de forma mais privada nos saraus promovidos pela Companhia Sarau organizados pelo Tucum e Ana Salvagni em Barão Geraldo. Foi em 2010 que o Zé Esmerindo produziu “Esmeros”, e incluiu e arranjou “A Canção de Deodora”, tornada pública a letra que escrevemos eu e Ana Maria para a canção que o Zé Gramani compôs com a rabeca do seu Nelson... Aqui, o link para conhecer uma das influências de seu Nelson (https://arq-camp.campinas.sp.gov.br/index.php/esmeros-ze-esmerindo )

Para conhecer a versatilidade da Rabeca, coloco aqui uma palhinha do Zé Gramani tocando outra canção, Anna Terra, (que soa aos 12'42... https://www.youtube.com/watch?v=Fd3B8PIx-kQ ), no CD “Mexericos da Rabeca”, uma das obras que registrou a fértil relação do Gramani com o instrumento que produzia “sons inesperados”... Nas mãos dele, Violino e rabecas soam em companhia do cravo de Patrícia Gatti, numa mistura do medieval europeu com o popular Brasil afora...

Guardo no peito este gosto de saudade do que ficou por fazer, quando as correntezas do rio da vida fazem encontrar barcos coloridos, que rumam em diferentes direções, cheios de vida e de histórias e coisas belas que os seres sociais produzem quando têm tempo para viver além do trabalho...


A canção de Deodora: https://www.grupomteufba.org/post/a-can%C3%A7%C3%A3o-de-deodora



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