Bom dia a todos, todas e todes, aos demais colegas de trabalho nesta sala e à coordenação desta atividade, professora Rilmar!
Quero começar parabenizando ao Núcleo de Extensão da FACED pela realização desta II Jornada de Extensão. É fundamental abrir espaços de diálogo que possibilitem que nos conheçamos e partilhemos nossos referenciais, projeções, expectativas e dificuldades.
Mais que em outros momentos na história da formação social brasileira, torna-se fundamental pensar uma política de extensão que evidencie os nexos da Universidade com a Economia Política. Apenas um entendimento precário desta relação pode permitir qualquer tipo de cogitação acerca de uma “distância” entre a Universidade e a sociedade. Precisamos compreender que a Universidade não foi produzida para atender as necessidades da classe trabalhadora! A Universidade foi produzida para desenvolver (e formar pessoal para atuar em) processos teórico-metodológicos que favoreçam o desenvolvimento das forças produtivas e o controle das relações de produção, na forma vigente no último século – relações de produção capitalistas.
Mas nos alicerces das relações de produção capitalistas movem-se os que controlam e apropriam privadamente as forças produtivas e os que necessitam vender força de trabalho em troca de salário. Esta contradição fundamental está nas bases da luta de classes em que se movem os interesses capitalistas e os interesses da classe trabalhadora em diferentes formações sociais.
A Universidade não pode pairar acima destas contradições. Está impregnada por elas. A Universidade sempre esteve profundamente enraizada na luta de classes a serviço dos interesses do capital, mas a classe trabalhadora é constitutiva do movimento desta instituição que carece de serviços elementares para ficar em pé! É a pressão pelo direito à Universidade por parte da classe trabalhadora que abre suas portas, nas particularidades da formação social brasileira, para os pretos e pardos, é a pressão do movimento feminista que reivindica a Universidade para as mulheres que abre as portas desta instituição para as mulheres. A correlação de forças põe a Universidade em xeque e move o ensino a pesquisa e a extensão em direção aos interesses dos trabalhadores. É na luta de classes que a balança pende para a maioria constitutiva da formação social brasileira.
Entendemos que temos que reivindicar a extensão nas contradições dialéticas em que ela objetivamente se movimenta, enquanto contínuas transformações qualitativas, quando extensão integra-se efetivamente e de forma indissociável, com a pesquisa e o ensino.
Entendemos que a extensão se concretiza com na atuação de cada graduando formado na UFBA, no modo como atuam nos mais variados ramos profissionais e campos de trabalho. Quando estes profissionais saem com o único foco de acumulação privada, a ação extensionista da UFBA fica restrita à lógica de mercado, mantendo-se no eixo que produziu historicamente a Universidade. Entendemos que a extensão se concretiza com cada objeto de investigação delimitado, com cada matriz teórico-metodológica posta em movimento, que fortalece os valores individualistas e as ilusões subjetivistas, renunciando a uma percepção dos impactos dos resultados da investigação no desenvolvimento de forças produtivas que fortalecem as relações de produção vigentes ou a põem em questão.
Feita esta introdução mais geral, penso ser urgente reconhecer – especialmente na Faculdade de Educação – a necessidade de produzirmos uma política de extensão que se coloque a serviço dos interesses dos trabalhadores. Neste sentido, mais que uma exposição pública de processos, ou contra qualquer tentativa de controlar e delimitar o que a extensão é ou não é, trata-se de acumular debates e produzir ações que indiquem uma direção para a política de extensão a serviço dos interesses da classe trabalhadora.
O Grupo de Estudos e Pesquisas Marxismo e Políticas de Trabalho e Educação, em processo de formação, vem concebendo a extensão como um espaço de propagação do materialismo dialético e do socialismo científico. Como um momento de prestação de contas e de recolha de demandas por parte da sociedade. Esta não vendo sendo tarefa fácil. Exige conjuntos importantes para ser mobilizada:
(i) exige inserção na teia de relações constitutivas do segmento de classe a quem queremos servir (a classe trabalhadora baiana);
(ii) exige disputar entre diferentes perspectivas teórico metodológicas, uma concepção de extensão que promova a Universidade Popular como um caminho efetivo de levar aos trabalhadores o conhecimento necessário para o controle das forças produtivas e das relações de produção;
(iii) exige o desenvolvimento de metodologias de aproximação, comunicação e escuta que vamos ter que demandam um diálogo não hierárquico com a classe trabalhadora brasileira na sua interseccionalidade;
O M.T.E vem ensaiando este movimento, na forma de alguns eventos permanentes de caráter anual. Estes eventos são a Jornada MAIOcomMARX, o Seminário Mercado e Condições de Trabalho dos Professores de Educação Física; os Encontros Marxismo e Políticas de Trabalho e Educação (em realização neste exato momento) e os cursos de extensão, no ciclo delimitado para exposição neste evento, o curso “Clássicos sobre a formação social brasileira”.
A Jornada MAIOcomMARX aparece, justamente, porque ao contrário do que vem sendo apregoado por ultraliberais e reacionários que controlam as forças produtivas e as relações de produção neste momento, a Universidade brasileira não está dominada pelo marxismo. Nos locais em que o marxismo existe, trava-se a luta pelo direito de estudar e investigar esta referência, frequentemente, sem acesso aos recursos públicos. Nesta ação de extensão, trabalhamos para propagar o marxismo desde as referências de sua origem e a leitura de conjuntura que ele nos possibilita realizar.
Os Encontros Marxismo e Políticas de Trabalho e Educação (neste momento, em 7ª edição), visam prestar contas das pesquisas que temos desenvolvido, efetuar balanços de nossas contribuições e da conjuntura em que estamos nos movendo com a finalidade de projetar o próximo ciclo.
O Seminário Mercado e Condições de Trabalho dos Professores de Educação Física (primeira edição realizada em 2022) trabalha para expandir os horizontes da formação em educação física colocando às vistas dos estudantes e profissionais a complexidade das relações de produção nas quais nos movemos.
Os Cursos de Extensão, ocorrem determinados pelas demandas de formação de graduandos e pós-graduandos em atividades mais flexíveis e conjunturais (Cursos sobre a concepção de Estado; cursos sobre a contribuição de Gramsci; Cursos sobre os Clássicos que interpretaram a formação social brasileira.
Integradas ao ensino e à pesquisa, estas ações de extensão, contraditoriamente, foram propagadas pelas redes sociais, ficando fortalecidas neste ciclo pandêmico. Pela primeira vez adquirimos uma adesão significativa. Consideramos esta adesão significativa, porque estamos considerando que adesão dos participantes não partiu de nenhum tipo de convênio entre Universidade e locais de trabalho (como a maior parte dos cursos de formação de professores que efetuamos na FACED, vinculados às Secretarias de Educação do Estado e Municipais).
Hoje, o M.T.E. possui um canal do YouTube pelo qual divulgamos todas as atividades que desenvolvemos. A adesão em algumas atividades chega a mais de 6.400 visualizações envolvendo participantes das mais variadas áreas das ciências humanas.
Reivindicamos um posicionamento explícito na luta de classes, a serviço dos interesses da classe trabalhadora. Uma matriz teórica que contribua para a leitura correta do desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção e para a formação da consciência da classe trabalhadora e sua organização para a superação destas relações de produção. Reivindicamos a eleição de objetos que respondam as necessidades objetivas de compreensão das tendências no desenvolvimento de forças produtivas e relações de produção e o impacto deste movimento na educação e na formação dos que formam a classe trabalhadora.
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